Em sua sangrenta cruzada para estabelecer um governo teocrático, baseado na Bíblia, o movimento religioso-militar teria raptado mais de 20 mil crianças, usadas como escravas sexuais ou soldados. Segundo denúncias, as crianças "problemáticas" teriam seus narizes, orelhas e/ou lábios cortados, sendo obrigadas a comer sua própria carne. As meninas consideradas atraentes por Kony (que segundo relatos, gosta de vestir-se de mulher) ou pelo alto comando, seriam transformadas em "esposas".
LRA forçou o deslocamento interno de mais de 2 milhões de pessoas. Na foto, campo de refugiados na cidade de Kitgum, no norte de Uganda. |
Críticas
Alguns críticos do vídeo (o maior viral da história; assista abaixo) o relacionam às recentes descobertas de importantes reservas de petróleo em Uganda. Kony seria um pretexto para a instalação de uma base militar norte-americana na região. Situação em Uganda era crítica já há mais de uma década.
"A campanha em si é de tirar o chapéu. Focada em um público jovem e antenado, constrói um mosaico de elementos que tocam o coração: crianças americanas lindas falando sobre o 'homem mau', crianças africanas chorando e pedindo ajuda, artistas e políticos de alta reputação dando credibilidade à causa. Pressão de tempo é outro elemento indispensável: tudo tem que ser feito agora, não há tempo a perder.", escreve Marina Barros em texto publicado no Outras Palavras. Segundo ela, compartilhamento indiscriminado do vídeo "Kony 2012" poderia ser explicado pela falta de um "filtro mais crítico" do público, que seria composto predominantemente por adolescentes meninas (13 a 17) e jovens meninos (18 a 24)." Marina aponta ainda o fato do vídeo desconsiderar "todas as iniciativas sociais e políticas bem sucedidas de dentro de Uganda", reforçando o "estereótipo do americano bonzinho que salva a África, 'continente de mazelas infinitas'" Leia mais.
Segundo a Associated Press, Timothy Kalyegira, cientista político de Uganda, e Ogenga Latigo, político da oposição, acreditam que o vídeo não traz o contexto histórico e a perspectiva apresentada pela organização é muito limitada. De acordo com os especialistas, o vídeo omite o fato de que o grupo de Kony lutou contra o exército de Uganda, que cometia atos violentos, e que o governo do país também chegou a cometer genocídio em busca do líder guerrilheiro." ... "Esse conflito existe há anos e temos que nos perguntar o motivo de isso aparecer agora. Acredito que estas pessoas têm outros objetivos que não estão claros", comentou o analista político Nicholas Sengoba. Ele também lembra que Joseph Kony está desaparecido do país desde 2006 e, portanto, não haveria motivo para que esta campanha surgisse meses depois de Obama enviar tropas à Uganda. Leia mais.
O premiado jornalista ugandês Angelo Izama diz que o vídeo é um retrato “de uma era que já passou”. As crianças que antes fugiam para não serem sequestradas e alistadas hoje “são semi-adultos”, sofrendo com desemprego, prostituição e HIV/AIDS. E hoje, as “crianças invisíveis” que intitulam a instituição de caridade não sofrem com Kony e o LRA – sofrem de doenças como uma síndrome neurológica incurável que as faz ter convulsões e as impede de comer direito. A síndrome afeta mais de 4.000 crianças no norte da Uganda." Leia mais.
Veja também
Desembalando Kony 2012 (Unpacking Kony 2012, de Ethan Zuckerman, traduzido para o português por Natália Mazotte e Bruno Serman)
Kony 2012: Propaganda do Estado para uma Nova Geração
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